Boulos faz caravanas em SP para abrir campanha e tenta formatar perfil moderado
Deputado inicia giro pelas 32 subprefeituras com foco além da esquerda para enfrentar Ricardo Nunes
Com o apoio do PT sacramentado, Guilherme Boulos (PSOL) prepara para setembro o início de sua pré-campanha a prefeito de São Paulo com um roteiro de caravanas por todas as regiões da capital na intenção de se aproximar de eleitores, ouvir líderes locais e debater problemas da cidade.
O deputado federal rivaliza com o candidato à reeleição, Ricardo Nunes (MDB), que ataca o líder de movimentos de moradia com a pecha de invasor de propriedades e explora a inexperiência do adversário para depreciá-lo. Boulos, que exerce seu primeiro mandato, tem o apoio do presidente Lula (PT).
Como o parlamentar costuma ficar em Brasília de terça a quinta-feira, a imersão nas questões da capital deverá se concentrar entre sexta e segunda. Buscando percorrer as 32 subprefeituras até dezembro, a primeira caravana está prevista para o dia 2, um sábado, mas o local ainda não foi anunciado.
A equipe de Boulos quer que o trabalho engaje os partidos que deverão apoiá-lo no pleito de 2024.
Como o PSOL forma uma federação com a Rede e o PT está atrelado ao PV e ao PC do B, a princípio cinco legendas já estariam envolvidas na pré-campanha.
Aliados do deputado, no entanto, têm tido conversas com os dirigentes das demais siglas no intuito de construir uma aliança mais profunda do que a formal —pela lei, as federações têm que atuar em unidade. A expectativa é que as negociações avancem nos próximos dias.
Conforme o cronograma, essa frente partidária já estará representada nos eventos que começam em setembro. O plano é atrair ainda outros partidos, como Solidariedade e Avante. Também há um flerte com o PDT, que hoje possui a pré-candidatura do apresentador José Luiz Datena.
Um dos responsáveis pela articulação é Josué Rocha, assessor do gabinete de Boulos e coordenador do MTST (Movimento dos Trabalhadores Sem Teto), grupo em que o deputado milita há mais de 20 anos. O elo com a organização é usado por Nunes para fustigar o oponente.
Nas caravanas, a ideia é que Boulos chegue pela manhã à região escolhida para aquela semana e passe o dia em contato com moradores, líderes comunitários, empresários e representantes de igrejas, sindicatos e associações. No fim do dia, será feita uma plenária para debater as urgências.
“Vai ser um processo principalmente de escuta”, diz o deputado estadual Simão Pedro (PT), defensor da confirmação do acordo fechado pela cúpula petista em 2022 com Boulos, que abriu mão da candidatura a governador para apoiar Fernando Haddad (PT), ao fim derrotado por Tarcísio de Freitas (Republicanos).
Para Simão, a situação no PT está pacificada depois da série de reuniões dos diretórios zonais recém-concluída. No encerramento, no último dia 5, a legenda referendou a união com Boulos, em ato que contou com a presença do próprio e de petistas graúdos, como Haddad e a presidente Gleisi Hoffmann.
O principal foco de resistência residia no deputado federal Jilmar Tatto (PT) e seu grupo político. Eles vocalizavam o argumento de uma parcela minoritária que defendia o lançamento de candidatura própria e alertava para o risco de o partido sair prejudicado na votação para a Câmara Municipal.
Será a primeira vez desde 1985, ano em que os paulistanos voltaram a escolher o governante por meio do voto direto, que o PT ficará sem um nome na cabeça de chapa na disputa paulistana. A legenda já governou a capital três vezes, a última delas com Haddad, atual ministro da Fazenda, entre 2013 e 2016.
Boulos, que concorreu a prefeito em 2020 e foi ao segundo turno contra Bruno Covas (PSDB), vem se aproximando dos quadros petistas na cidade desde o início do ano para sinalizar disposição de estreitar as relações. A vaga de vice já foi reservada para o partido, que deverá indicar uma mulher.
O giro que terá início nas próximas semanas também cumprirá o papel de ajudar a formatar um perfil moderado para Boulos, pintado pelos adversários como radical. A identificação com a esquerda é apontada como um dos entraves para seu crescimento entre o eleitorado de centro.
A avaliação é que os gestos na direção do setor empresarial e de camadas da classe média, a exemplo do que fez na campanha de 2020, terão papel crucial na consolidação da nova candidatura.
O psolista deverá combinar o discurso que agrada à sua base com acenos a outros segmentos, em um esforço para ampliar seu alcance. Na eleição de três anos atrás, ele obteve 40,6% dos votos válidos no segundo turno e colheu seus melhores resultados em áreas da periferia.
A estratégia agora é conquistar grupos de eleitores insatisfeitos com a gestão Nunes e consolidar o apoio da esquerda. A esperança é repetir o desempenho que Lula, concorrendo à Presidência, e Haddad, disputando o governo paulista, tiveram na capital em 2022, superando os rivais bolsonaristas.
O campo associado a Lula, no entanto, deverá ficar dividido. Embora o PT esteja na composição com Boulos, o PSB deverá lançar na eleição paulistana a deputada federal Tabata Amaral, rachando a corrente partidária que impulsionou os petistas na cidade no ano passado.
A decisão, por ora, é a de respeitar o projeto dos pessebistas e evitar ataques a Tabata, tida como uma apoiadora presumida de Boulos em um eventual segundo turno dele contra Nunes.
A esquerda quer colar no candidato à reeleição a imagem de bolsonarista, apostando na expressiva rejeição a Jair Bolsonaro (PL) na cidade. Nunes tem afagado o ex-presidente para garantir seu apoio e o da base conservadora —e, ao mesmo tempo, inibir o surgimento de alternativas nessa seara.
Para aliados de Boulos, a ligação do prefeito com Bolsonaro, se mantida até o ano que vem, será um trunfo. O entendimento é que a aversão ao ex-presidente entre os paulistanos é maior do que a simpatia, principalmente num ambiente em que ele está tragado por investigações e escândalos.
Boulos tem dito que sua missão nesta fase da disputa é acelerar o enraizamento de sua campanha nos diferentes territórios. Daí a preocupação em discutir as pautas da cidade para além das áreas em que já atua, como habitação, transporte público, combate à desigualdade e direitos humanos.
O deputado pretende conciliar o mergulho na capital paulista com as atividades do mandato federal. Dos mais de 1 milhão de votos recebidos por ele em 2022, 48% estavam concentrados na capital e 52% foram distribuídos pelo restante do estado. Políticos do entorno de Boulos defendiam que ele entrasse em campo com mais vigor assim que estivesse encaminhado o acerto com o PT no âmbito municipal, visto que Nunes se porta como pré-candidato à reeleição há tempos e tem ainda a vantagem de comandar a máquina.
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